"Fodeu!" - essa foi a primeira exclamação do dia. Estava absolutamente atrasada para o trabalho e, quando levantou, o cabelo, alisado no salão já há algum tempo, pedia urgente um banho. Só que não dava tempo. O sinal batia às 7:30, o colégio ficava há 5 quilômetros de sua casa e já eram 7:15. Pensou, então, que nunca mais iria beber em dia de semana. Pelo menos, não como na noite anterior. Nem ir dormir tão tarde. Depois, enquanto lavava minimante o rosto, escovava os dentes tentando tirar o gosto de ressaca da boca e dar um jeito no cabelo despenteado, prendendo-o, riu de si mesma quando lembrou da primeira afirmação do dia: "fodeu!" e gargalhou sozinha, em frente ao espelho.
A pele estava boa, o cabelo, como já disse, nem tanto, mas o sorriso, apesar do atraso e de uma possível chamada de atenção do diretor, estava ótimo. Era resultado da noite anterior.
Quando terminou a arrumação frente ao espelho, pegou a mala, com as coisas da escola - livros didáticos e de chamada, principalmente - e uma Club Social, sabor pizza, e dirigiu-se até o carro. No relógio já eram 7:25, mas a protagonista da história, desmemoriada como era, havia esquecido o jaleco dentro de casa. Saltou do carro e foi correndo buscá-lo. O jaleco, que sempre estava pendurado na cadeira da cozinha, era imprescindível à professora, que sempre usava roupas muito justas. O jaleco era proporcionalmente mais importante de acordo com a faixa etária dos alunos: quanto mais velhos, e libidinosos, eram os alunos, mais indispensável era o uso deste.
Dirigindo até a escola, tentou comer a bolacha, mas seu estômago não estava ainda muito bem recuperado. Achou melhor não forçar.
No trajeto, o de sempre: alguns alunos pelas ruas, caminhando até a escola, a favela de papelão - como um ex-namorado costumava chamar -, as casas humildes, diversos cães na rua e uma cerração típica da cidade, logo cedo.
Quando chegou à escola, os alunos já estavam formando filas e sendo obrigados a rezar. Sempre foi a favor da laicidade da escola, mas para não criar atrito com o diretor e equipe pedagógica, achou melhor não contrariar, uma vez que fazia pouco mais de dois anos que ministrava aulas ali.
Era um colégio pequeno pobre, situado na periferia da cidade, e contava, na época, com pouco mais de 500 alunos. Mesmo assim, as turmas, que eram poucas, eram lotadas. Cerca de 40 ou 45 alunos por sala. Enquanto era aluna, nunca havia acreditado quando os professores diziam que em dias de chuva os alunos ficavam alvoroçados. Nunca tinha acreditado até tornar-se professora, após concluir o curso de licenciatura.
O que mais a deixava triste ali na escola não era necessariamente o comportamento dos alunos em sala de aula. Eles sim tinham necessidade de aprender, ainda mais História, para mudar a realidade social. E dava muita vontade em ensiná-los. O que a deixava desapontada era a utilização de drogas nos arredores da escola, por alunos, ex-alunos e pessoas da comunidade. Infelizmente, ver uns garotos reunidos na esquina, fumando alguma droga, não era uma visão esporádica, não. O bairro era, por muitos, considerado um dos mais violentos da cidade, o que influenciava diretamente no desempenho dos alunos.
Naquele dia, apesar de sempre se esforçar para dar uma boa aula, leu apenas o livro didático com os alunos, que estranharam a indisposição da professora, que sempre falava alto e gesticulava. Para quem nunca dava aula sentada, passar o dia todo sobre a cadeira foi, realmente, reconfortante. Suas pernas doíam, os músculos da bunda também. Nada melhor como ficar sentada, sem o mínimo esforço físico.
Depois de 05 aulas, durante a manhã daquela quinta-feira, foi almoçar.
Não tinha um restaurante certo para ir. Todo o dia almoçava em algum e a escolha do cardápio dependia diretamente do dinheiro na carteira, que nunca era muito. O PF de R$3,50 era o mais requisitado, em grande parte das vezes. Só no comecinho do mês, quando, no quinto dia útil, recebia é que almoçava uns dois ou três dias no seu restaurante favorito, que servia comida mineira.
No almoço, nada de novo. Almoçava sozinha todos os dias, exceto quando algum conhecido a abordava. Mas, pra falar a verdade, preferia mesmo era comer sozinha, com o fone de ouvido, e pensando.
Desde da noite anterior, essa era a primeira vez que tinha um tempinho para relembrar do ocorrido. Quando se viu pensando no que havia passado, fez uma cara sacana em pleno restaurante. Tentou disfarçar com uma colherada de macarrão ao alho e óleo. Se iria pensar nos acontecimentos da noite anterior era melhor que não fizesse cara alguma, até porque alguns alunos da escola, não necessariamente dela, estavam sentados próximos, a observando.
Fazia algum tempo que ela o observava. Algum tempo, do tipo 04 anos. Mas era aquela coisa despretensiosa do coleguismo da escola de inglês. Ela nunca se manifestou, como mesmo costumava dizer "não estava na cadeia alimentar dele" e deixou passar. E o curso de inglês acabou. Depois disso, nunca mais soube sobre ele, além do fato de que havia se casado com um garota alguns anos mais nova que ela. A vida dela também mudou. Conheceu o garoto que dizia que para chegar onde ela trabalhava era preciso passar pela "favela de papelão" - que ele, na verdade, conhecia bem -, mas o relacionamento não foi muito promissor. Sofreu um tempo por amor. Sempre sofria e fazia sofrer por amor, era normal. Enfim, depois de daquele tempo todo ela se surpreendeu quando ele fez uma "solicitação de amizade" no facebook. E mais ainda quando, ao ler o perfil do rapaz, deparou-se com o status "solteiro".
Ela, que já havia gostado bastante desse negócio de internet, agora não apreciava tanto, mas sabia que a rede era um grande auxiliar, desde que com o devido cuidado, para encontrar pessoas quando se está solteiro. Adicionou na hora. "Vai que... né?!"
Depois de um tempo, que eu não sei precisar, eles se falaram. Conversas aleatórias, até o convite para jantar:
- Onde posso te encontrar?!
- Onde você mora? Eu passo te buscar.
"Oh meu deus!! Se ele vem me buscar aqui em casa é porque tem carro" e sorriu, pensando que este poderia ser o bom partido que ela tanto procurava.
Passado o endereço e combinado o horário, era hora de ir se arrumar. Na verdade, não se arrumou muito, para soar despretensiosa.
Quando ele chegou, ligou no celular dela (ah, eu havia esquecido de dizer que ele pediu o telefone dela!) avisando que já estava lá em baixo - ela mora no primeiro andar de um apartamento - esperando.
O que é importante falar é que essa saída não foi a noite anterior, já foi há algum tempo, mais ou menos umas duas semanas. Não que ela não fosse dar no primeiro encontro, mas é porque se insinuava até certo ponto e esperava a iniciativa do rapaz, que, nesse momento, não veio.
Nessa primeira saída - onde ela, depois de tanto tempo sem o ver, achou que ele ganhou uns quilinhos - conversaram sobre os rumos que a vida tinha tomado: faculdade, planos e namoros, essas coisas, acompanhados de uma excelente porção de mignon ao molho madeira e a alguns canecos de cerveja.
Para quem iria trabalhar no dia seguinte já estava tarde. Era aproximadamente uma da manhã quando ele a convidou para irem embora. Então, ela começou a cogitar as possibilidades: "Se eu for pra casa dele, amanhã eu to fodida. Se eu não for, eu não tô. Simples assim. Quer saber? Eu quero foder!"
O que ela não contava era com a possibilidade de ele simplesmente a levar para casa e despedir-se, com um simples beijo no rosto.
Ficou desapontada. Eram raros, bem raros, os casos em que levava um fora. Sim, porque na cabeça dela foi um fora. Ela queria transar com ele, deu a entender e ele não tomou iniciativa. "Besta ele não é! Só não queria me comer". "Paciência!" E para levantar o seu astral, pensou ao deitar-se na cama: "Se ele não quer, tem quem queira" e caiu no sono profundo.
Alguns dias depois se falaram via internet e ele confessou ter ficado esperando o convite dela para subir “para conversar”. A partir daí começaram a se falar, até com certa freqüência, para combinar um dia, que ficasse bom para os dois, para sair “conversar”.
Foi na noite passada. Ele deu o endereço da casa dele, que ela, muito ruim geograficamente, não conseguiu encontrar. Ficou próximo a uma escolinha de Educação Infantil e ligou, pedindo para que ele a buscasse. Quando ele chegou até ali, apenas a olhou e acelerou o carro, que foi seguido pelo dela até a casa do rapaz.
Quando entrou e viu que ele havia sentado no sofá, mandou:
- Eu não vim aqui pra assistir televisão!
Ele ficou meio encabulado com a objetividade da garota e perguntou se ela queria beber alguma coisa.
Ela cogitou Whisky, porque tinha visto uma caixa sobre o aparador, mas logo descartou a possibilidade, queria impressionar e não poderia abraçar-se à uma garrafa e esquecer do mundo. Então, aceitou a dose de Rum, que era uma de sua bebidas favoritas.
Quando saíram da cozinha novamente em direção à sala, pediu para quem ouvissem música. Estava tentando compor o clima: meia luz, bebidas e música boa. Era o enredo perfeito de uma boa transa.
Ela, antes mesmo do primeiro beijo, já estava excitada com a situação. Era um tesão reprimido de anos, um gozo contido e uma curiosidade de saber se ele eram, enfim, tudo aquilo que suas projeções mentais – principalmente durante as masturbações – condiziam à realidade.
Ele a beijou. Na cabeça dela, o primeiro beijo sempre é estranho. Nunca gostou de primeiros beijos. Assim como também preferia as segundas transas.
De imediato a puxou para o quarto e a jogou na cama. Alguns beijos e carícias seguiram, até que começaram a se despir.
Ele vestia cueca box preta. Ela um conjunto cor de rosa que havia comprado especialmente para a ocasião. Comprou rosa porque tinha a teoria das cores: a cor está diretamente relacionada ao desempenho sexual. Rosa era um tom “neutro”. Assim, ele a esperaria dentro da média e, quem sabe, ela poderia o surpreender.
O momento era de expectativa, pelo menos para ela, até ver o pau. O pau sempre foi algo muito importante, principalmente para quem era uma grande admiradora do membro. Sempre preferiu os caras mais brancos, pela cor arroseada da cabeça. Além disso, tinha a questão do tamanho – que apesar de muitas pessoas dizerem não – que é fundamental.
Em conversas, há tempos, com as amigas, criaram o conceito de “pau bom” e o dele se encaixava nos requisitos. Apesar de ser um pouco para a esquerda – e ela pensar que tinha relação com a mão com a qual ele batia punheta –, era um pinto que não tinha coro nem demais – o que é feio –, nem de menos – o que dificulta a masturbação por terceiros –, além de ter uma grossura gostosa – nem fino demais, que não daria pra sentir grandes coisas, nem grande demais, que daria para sentir até dor – e o cumprimento estava dentro da média dos demais pintos que já havia conhecido na vida. Então, tava ótimo.
O primeiro sexo foi bom. Nada comparado ao segundo, claro! Mas ambos gozaram.
Depois de ambos estarem nus, e excitados, ela desceu até o pau para chupar. Adorava chupar, porque sentia tesão em chupar. Ao término, sua boceta sempre estava mais molhada que o pau babado. Enquanto chupava, alternava movimentos, ora chupando a cabeça, ora enfiando o pinto na boca até a base.
Ele era um pouco silencioso, o que a incomodava, por não saber se estava ou não agradando. Ela, na verdade, também o era. Toda a vida morou em apartamentos baratos, com paredes de papel, e nunca pode se manifestar. Foi condicionada ao prazer contido, exprimido apenas em suspiros e gemidos baixos.
Após o boquete, ele se levantou e pegou a camisinha. Deitou-a na cama e subiu sobre ela, que colocou os joelhos ao lado das orelhas – sim, ela era bastante flexível! – e a penetrou, vestindo uma camisinha com cheiro de morango. Meteram naquela posição alguns minutos. Ele nem poderia imaginar, mas essa era a posição em que ela gozava mais rápido. Não demorou muito e ele também gozou, em silêncio, absoluto silêncio.
Depois do sexo, ele demonstrou-se, de certa, forma carinhoso, quando se ajeitou de maneira que ela pudesse se deitar sobre seu peito. Toda arredia, não sabia o que fazer. Primeiro porque tinha uma imagem mais animalesca dele e também porque não era do feitio dela, quando de sexos casuais, fazer aquele momento romance pós-coito, ainda mais agora, que tinha assimilado que havia gostado do sexo e da atitude dele em relação a ela.
Conversaram um pouco e durante a conversa ela lembrava de uma frase, a única talvez, que ele disse durante o sexo: “eu sei que é feio dizer, mas você é gostosa pra caralho!” Porra! O piá – ela sempre chamava os garotos, até os mais passadinhos, de piá – tinha curtido e, mais, a respeitou, mesmo sendo um sexo casual.
Estava admirada com o posicionamento do rapaz. Normalmente, nesse tipo de encontro os caras só querem foder mesmo, enfiar o pau no cu, gozar sem se preocupar com a garota. E ele, ele havia pensado, nem que fosse minimante, nela. Ela gostou disso e desgostou por gostar.
Em pouco tempo estavam metendo pela segunda vez. Ela adorava isso: caras que gozam, tomam um fôlego, e continuam transando. Dessa vez ela ficou em pé, debruçada sobre a cama. Estava com muito, muito tesão. Já tinha se imaginado naquela posição, dando para ele, inúmeras vezes e agora era muito melhor do que ela poderia ter imaginado. Ela riu, e gozou mais uma vez. Alternaram algumas vezes a posição, até que ele também gozou.
Um pouco mais de conversa. Uma meia hora talvez, e ela ainda queria mais. Ele disse que não seria possível, porque havia acabado a camisinha. Ela não engoliu muito a história – porque normalmente num pacote CE camisinha vem três – e achou mesmo é que ele não agüentava uma terceira. Ela também estava cansada, mas sempre gostou de mostrar aos homens o quanto gostava de sexo. Homem sempre gosta de mulher que gosta de sexo.
Já era umas 04 da manhã quando foi embora da casa dele, que disse que quando retornasse à cidade – estava trabalhando fora – ligaria para ela, que não acreditou muito que isso iria acontecer, mas desejou, sinceramente, que ele assim o fizesse.
Chegando em casa, num delírio pré-dormir, desejou, mais uma vez, que ele ligasse e dormiu, acordando atrasada no dia seguinte.
Depois do almoço, como ainda tinha um tempo até voltar para a escola – só tinha a partir da segunda aula – decidiu passar em casa para dar uma dormidinha e, novamente, se odiou por pensar nele. E agora, desse dia pra cá, e enquanto a ligação não vem – se virá – ela odeia os prés-dormir, por sempre pensar nele no entremeio da realidade e do sonho.